13.05.2016, vamos lá esclarecer umas coisas

Eu estudei num colégio com contrato de associação, do 5º ao 12º ano. Estudei precisamente num dos colégios que referem sempre nas notícias sobre este assunto. E fico com os nervos em franja quando ouço aquilo que dizem.

Acredito que existam colégios com contratos de associação que não se justificam. Acredito que existam boas escolas públicas e maus colégios. Mas colocarem tudo no mesmo saco e justificarem, assim, os cortes que têm vindo a fazer? Isso não.

Vou falar daquilo que conheço, por experiência própria (ao contrário de muita gente que fala sem conhecimento). O colégio onde estudei está situado numa zona onde existem escolas públicas, num raio de 10 km. Se não me engano, são duas. Há dias, na televisão, vi a directora de uma delas dizer que tem salas vazias por causa do colégio. Só consegui rir.

Vamos por pontos, só para entenderem melhor:
- Quem morar em freguesias, que não as mesmas onde se situam essas escolas, não tem transportes públicos para ir para a escola.
- Essas freguesias não são conhecidas por terem milhares de jovens que encham todas as escolas e mais algumas.

Mas a culpa é do colégio, claro. No meu tempo, havia muitos alunos dessas freguesias, é certo. Mas já têm vindo a fazer cortes nos contratos de associação há algum tempo. Eu sei que agora existem muitos critérios de selecção para conseguirem entrar para o colégio, desde a morada de residência ao local de trabalho dos pais (que influencia sempre). Por isso aquela senhora que não venha com tretas de que as salas estão vazias por causa do colégio. E nem vou falar do facto dessas escolas não terem ensino secundário.

A freguesia onde morava é uma das que ainda está incluída no leque de freguesias que “têm direito” a ir para o colégio. Era a escola que tinha mais perto, logo para onde seria lógico ir. Não fui para lá por ser um colégio, fui porque era a única solução viável. Tive colegas (muito poucos) da minha turma da escola primária que foram para outras, mas esses eram aqueles que tinham pais com disponibilidade para os levar todos os dias à escola.

No colégio, éramos mais de 3000 alunos, do 5º ao 12º ano. Tínhamos autocarros que cobriam uma área imensa. E sim, tínhamos condições que a maioria das escolas (na altura) não tinha. Tive bons e maus professores, mas conseguíamos notar que os maus professores duravam pouco tempo lá (felizmente). Naquele colégio nunca existiu o dogma de meninos ricos. Apesar de ter nome de colégio, funcionava como uma escola pública para todos. Uma escola pública com condições excelentes, é verdade, mas se tínhamos aquelas condições foi porque a direcção soube aplicar da melhor forma o dinheiro que recebeu. Apesar de tudo o que se diz por aí, os colégios com contrato de associação não recebem fortunas, comparativamente com aquilo que uma escola pública recebe. Podem ver aqui um exemplo, que explica precisamente como andam a fazer as contas de comparação.

Quando ouço pessoas dizerem que, se não há escolas públicas naquela zona, então a solução é construir… até fico em ácidos. Será que essas pessoas fazem alguma ideia dos custos associados à construção de raíz de uma escola? Os milhões que são precisos? É assim que um aluno na escola pública fica mais barato? Não me façam rir. O colégio onde estudei já tem 47 anos. Não está lá há meia dúzia de dias. Faz algum sentido construir outra escola naquela zona e deixar um colégio com 6 edifícios mais um complexo desportivo ao abandono?

Eu defendo que, se já existiam escolas públicas na mesma área de colégios com contrato de associação, faz sentido terminar esses contratos. Mas que tenham em atenção todos os factores, desde oferta educativa a transportes (pelo menos). Não é para ver a distância no Google Earth e o resto que se lixe. E, se existem colégios que garantem a educação de áreas que não têm acesso a escolas públicas ou que têm escolas públicas lotadas, deixem estar as coisas como estão. Já têm as infraestruturas e os recursos necessários.

Com isto, apenas quero deixar claro que as coisas não são exactamente como as têm pintado na comunicação social. Se as pessoas que estão a ver do lado de fora até têm alguma desculpa para não saberem do que falam, os jornalistas (e o Governo) deveriam investigar melhor para não dizerem asneiras.

Comentários

  1. A minha ideia em relação a este assunto é tão simples como isto: se o Estado não consegue dar resposta com o ensino público, então que financie o ensino privado existente. No caso de existir uma opção válida de ensino público, então não faz sentido que se mantenha um contrato de associação com um colégio privado. Devia analisar-se caso a caso e atribuir fundos depois de cada avaliação minuciosa estar terminada, mas como em tantos outros exemplos isso nunca acontece. A lei torna-se cega e haverá muitos que são penalizados sem que isso seja justificado.

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  2. Acho que, como acontece sempre que há medidas que vão interferir com interesses instalados, há sempre tendência, de parte a parte, para "intoxicar" a opinião pública.
    Neste caso, pelo que tenho lido e ouvido, a verdade está a ser deturpada. Pelo que percebi, o governo não quer rasgar contratos. O assunto está a ser estudado caso a caso e o resto que se vai ouvindo, não passa de fogo de artifício da comunicação social e de manipulação das famílias, com a utilização vergonhosa de crianças em manifestações de caráter político.
    Acho que devíamos todos esperar pelas conclusões dos estudos e não "embarcarmos" em campanhas e manobras sem sabermos do que estamos a falar.

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